Uruguai, um país de vinhos únicos!
Publicado por Blog Vinho SIM em 8.7.13 com 2 comentários
Há algum tempo ando de olho no Uruguai. Com área de aproximadamente 175mil km2 (menor que o Rio Grande Sul, que o Paraná e que São Paulo, por exemplo) e população de menos de 3,5 milhões de habitantes, nosso vizinho tem uma posição geográfica bastante privilegiada e condições naturais muito interessantes para a produção de vinhos de alta qualidade.
Da região Sul do país, a única região da América do
Sul que possui clima Atlântico - e ainda com algumas microrregiões com solos similares aos da Borgonha
-, vem grande parte da produção, beneficiada pela insolação típica do paralelo Sul
35 - o mesmo que "contém" regiões superprodutoras como Mendoza (Argentina), Santiago
(Chile) e Cape Town e Adelaide (Austrália), por exemplo –, e pela brisa fria
proveniente das Ilhas Malvinas que banha suas costas durante as noites.
Outra característica interessante do país é o fato
de os vinhedos não necessitarem de irrigação artificial - já que o volume de
chuvas anual é considerado muito bom –, e, ao mesmo tempo, gerarem uvas com ideal maturação em boa parte dos anos.
Esse conjunto de condições naturais aliado a uma pitada de cultura local fazem do Uruguai o paraíso da Tannat, cepa que
chegou ao país por volta de 1838 pelas mãos de Pascual Harriague, originário do
País Basco e considerado o pai da viticultura uruguaia.
A Tannat, cuja origem remete à Irouléguy e Madiran
(País Basco – França), se adaptou muito bem ao solo e clima do Uruguai, tendo se
tornado a uva emblemática do nosso vizinho - tal qual a Malbec para a Argentina
-, produzindo vinhos com muita cor e estrutura e boa presença de taninos, o
que os tornam o acompanhamento ideal para carnes vermelhas na brasa, símbolo maior da gastronomia uruguaia.
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A onipresente Tannat, símbolo maior da vinicultura uruguaia |
Muito embora os vinhos corpulentos, carnudos,
frutados e tânicos sejam o estereótipo do tannat uruguaio, não é esse o vinho
que vem me chamado a atenção nos últimos tempos!
Tenho provado alguns exemplares que preservam as
principais características destes tannats uruguaios, mas com um toque refinado,
complexo e elegante, típico dos vinhos europeus. O equilíbrio entre fruta
(suavidade e doçura), taninos, afinamento em madeira e acidez, aliados a um
preço ainda bastante convidativo (creio que isso não durará muitos anos!)
tornam os vinhos uruguaios, ao meu ver, peças únicas da vinicultura
sulamericana e entre os mais elegantes do continente.
Grande parte das suas quase 180 vinícolas está
localizada no departamento de Canelones - muito próximo de Montevidéu -, é de
origem familiar, com produção artesanal (sem abrir mão de tecnologia de ponta)
e algumas delas estão preparadas para receber turistas, oferecendo visitas com passeios pelas instalações e vinhedos, diversos tipos de degustações e até almoço.
Nos últimos anos visitei algumas das principais delas, tais como Família Deicas, Bodegas Carrau, Antigua Bodega Stagnari, Pisano, Marichal (relembre), Viña Progreso, Santa Rosa,
Bouza, dentre outras (escreverei mais detalhes sobre as visitas em breve) e fiquei
muito satisfeito com a qualidade dos vinhos e com a forma com que me receberam,
sempre com muito carinho e disposição para falar sobre os vinhos e o trabalho
desenvolvido!
Creio que o Uruguai seja uma ótima escolha de viagem
para os diversos tipos de interesses em torno do mundo do vinho. Aos iniciantes
é uma boa forma de conhecer vinícolas de um país muito próximo, que certamente
darão atenção toda especial por serem empreendimentos familiares e, em geral,
pequenos. Para os iniciados é uma ótima forma de conhecer uma vitivinicultura que empenha
grande parte de seus esforços na produção de vinhos a partir de uma cepa muito
típica. E para os conhecedores é uma forma de provar, com preços justos, vinhos
que ainda (tomara que assim permaneçam por muito tempo) não cederam à
padronização imposta pelo mercado e possuem grande tipicidade.
Para os três casos, a dupla Tannat + Asado
Criollo é um atrativo imperdível, principalmente se foram acompanhados de um passeio ao fantástico Mercado del Puerto, onde turistas e locais se deliciam todos os dias com uma das melhores carnes do mundo acompanhadas de ótimos vinhos, tudo com preços bastante honestos!
Para mais informações sugiro os sites Bodegas del Uruguay e Los Caminos del Vino, que trazem notícias sobre o vinho
uruguaio e boas dicas de rotas para conhecer as principais vinícolas, com
telefones e e-mails de contato das principais delas.
Para mais dicas e/ou sugestões ou ainda tendo qualquer outra dúvida, não hesite em deixar seu comentário abaixo.
Saúde a todos e
que Baco nos ilumine sempre!
Categories: Uruguai, Uruguai - um país de vinhos únicos
Olá, boa tarde! Sou acadêmico do curso de Bacharelado em Enologia, da Unipampa/Dom Pedrito, e gostaria de saber de ti uma opinião mais detalhada sobre os vinhos da Região da Campanha, considerada científicamente uma das principais regiões de melhor potencial vitivinícola do pais. Um abraço!
ResponderExcluirOi, Eduardo! Tudo bem?
ResponderExcluirEsta é uma excelente pergunta.
Já que sua pergunta está aqui no artigo sobre o Uruguai, vou falar um pouquinho disso. Apesar da divisa com o nosso “vizinho de ótimos vinhos”, as regiões de Artigas e Riveras não possuem (ainda?) uma grande tradição na viticultura uruguaia e eu mesmo nunca provei nenhum vinho produzido com uvas de lá que tenha me surpreendido como me surpreendem as regiões de Canelones e Maldonado, por isso não sei até que ponto “nossos” vinhos da Campanha podem se beneficiar dessa proximidade.
Infelizmente conheço menos vinhos de vinícolas da região do que gostaria e grande parte deste desconhecimento está na dificuldade em conseguir estes produtos (pelo menos com bons preços) aqui em São Paulo. Conheço alguns vinhos produzidos com uvas daí (principalmente de Santana do Livramento) por vinícolas de Bento e o resultado tem me agradado bastante. Quanto às vinícolas da região, sendo bem honesto, até agora dos vinhos que provei, nenhum se destacou, com exceção feita a duas amostras de espumantes (Campos de Cima e Guatambu) que provei por conta da degustação que eu organizei (Ranking Vinho SIM de Espumantes Nacionais 2012-2013 [é possível encontrar vários posts aqui no blog] no início deste ano. Nesta degustação inclusive, por sugestão do Pedro Candelária (Campos de Cima), entrei em contato direto com o sr. Afrânio Moraes, presidente da Associação dos Vinhos da Campanha, mas, infelizmente, não obtive nenhuma resposta aos meus e-mails. Espero conhecer outros espumantes no RVS 2013-2014.
Muito obrigado pela visita e um grande abraço!