Confraria Vinho SIM - Abril/2014: Chardonnay barricado x Chardonnay não-barricado!
Publicado por Blog Vinho SIM em 5.5.14 com Sem comentários
Após a reestreia da Confraria Vinho SIM no excelente encontro de março, com o tema Sauvignon Blanc Novo Mundo (relembre), voltamos a nos reunir, desta vez na noite do dia 04 de abril, no Empório do Bacalhau, em São Bernardo do Campo.
O tema definido foi "Chardonnay barricado x Chardonnay não-barricado" e, desta vez, mudamos um pouquinho o formato de seleção das
amostras.
Além do tema do encontro, definimos também duas
faixas de preço. A primeira, adotada por quem chega “desacompanhado” é de R$
75,00 e a segunda, que pode ser adotada pelos “casais” é de R$ 150,00. Desta
forma, tivemos uma maior variedade de vinhos, com amostras da Argentina (2),
Austrália (1), Brasil (1), Chile (1) e França (3), trazidas pelos 12 confrades
participantes.
Neste encontro tivemos o desfalque dos confrades
Rodrigo e Graziela que, por motivo de viagem, não puderam estar presentes, mas,
por outro lado, tivemos a estreia da confrade Beatriz, mais uma apaixonada por
vinhos aqui do ABC.
Outra novidade neste encontro é a colaboração dos
confrades na construção das NDs/avaliações dos vinhos. Para este encontro
teremos avaliações dos confrades André Cuer (AC) - que escreve sua primeira (de
muitas) nota de degustação -, Riverlei Armellini (RA) – sommelier pela ABS-SP
-, e Talita Martinez (TM) - colunista do Vinho SIM.
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Tem frase melhor para definir o encontro de uma confraria? |
Chega de “papo”, vamos aos vinhos. A sequência foi
definida aleatoriamente e a degustação feita às cegas.
1. Jean-Marc Brocard
– Chablis 2011
A região de Chablis – França, produz vinhos
separados em quatro categorias, que são determinadas conforme o terreno onde os
vinhos são produzidos: Grand Cru, 1er Cru, Petit Chablis e Chablis. A última,
caso deste exemplar, é a mais simples e, em geral, seguem direto do tanque de
inox para as garrafas.
A definição geral desta categoria, prega que os vinhos
sejam muito vivos, com aroma floral e de frutas brancas, apresentando grande
acidez na boca. E é exatamente assim que é este vinho de Jean-Marc Brocard, um
vinho com ótima tipicidade.
Recebeu a nota média de 15,6, o que seria
relativamente baixa para seu custo na casa dos R$ 150,00, mas vale ressaltar que parte do painel considerou que o fato de ter sido o primeiro da noite prejudicou um pouco sua avaliação.
Posto tudo isso, creio que ainda valha a compra, principalmente se seu objetivo for uma harmonização
com peixes com molhos leves e ácidos.
2. Miras Jovem - 2012
Como os vinhos deste produtor da Patagônia vêm recebendo
diversos elogios, decidimos provar um deles, o Chardonnay Jovem 2012, cujo
volume de 30% estagia por 10 meses em barricas de carvalho francês e americano.
No nariz a madeira se mostra bem integrada, destacando um
fundo suave de baunilha. Paladar
denota frutas cítricas com acidez fresca, que não chama à atenção. Equilibrado,
com boa estrutura e persistência média. Vinho correto. (AC)
3. Château de Péronne – Mâcon-Villages 2011
Macon-Villages é uma denominação de vinhos brancos
produzidos nos municípios selecionados do Maconnais, área vinícola do sul da
Borgonha – França.
Assim como acontece em Chablis, em Macon também há
algumas classificações, basicamente separadas em Macon, Macon-Villages e
Macon-“nome da vila” (por exemplo, Macon Lugny ou
Macon Fuisse), que são mais refinadas, pois os vinhos são elaborados com uvas
provindas de um mesmo terroir. Normalmente na região, a Chardonnay amadurece um pouco mais
que em Clablis, por isso os vinhos podem ter algumas características mais
frutadas, sendo que as frutas cítricas aparecem mais “quentes” nos melhores
exemplares.
O vinho degustado, do produtor Château de Péronne foi o
grande destaque da noite, exalando um gostoso perfume de flores e frutas
cítricas maduras, com um final lembrando mel. Na boca, mostrou-se com ótima
estrutura, realmente trazendo todas as características de um clima quente,
mostrando também alguns toques de frutas secas, como amêndoas e nozes e boa
acidez. Muito bem equilibrado e com final longo. Certamente é uma ótima
harmonização para pescados – preferencialmente os de carne mais firme – com
molhos brancos e rosés à base de creme de leite.
A nota média de 17,2 e a indicação do melhor do
painel por 6 confrades, o colocam como o campeão do encontro. Suas qualidades o
fazem uma ótima compra, ainda que seu custo médio seja na faixa dos R$ 120,00.
4. Diamandes de Uco - 2010
Na “brincadeira” de acertar qual vinho era barricado e qual
não, esse foi o mais “sem graça”. Assim que provamos, o termo usado para
descrevê-lo foi “chá de madeira”.
Produzido pela associação entre a Família Bonnie,
proprietária do Château Malartic-Lagravière, e Michel Rolland, DiamAndes é o
último Diamante do grupo Clos de los Siete. Fincada ao pé dos Andes, no Valle
de Uco - Mendoza - Argentina, a DiamAndes possui 130 ha onde cria seus vinhos
No nariz e boca apresenta notas de frutas tropicais e
cítricas, com um final longo e boa acidez, porém o estágio de 8 a 10 meses em
barricas de carvalho francês lhe confere aromas excessivos de baunilha, que
acabam se sobressaindo às outras características, tornando o vinho pesado e um
pouco desequilibrado, especialmente se consumido numa ocasião como essa, uma
prova às cegas de Chardonnays diversos. (TM)
Provei o vinho em outra ocasião, acompanhando
uma bacalhoada à Gomes de Sá e as impressões organolépticas mudaram um pouco. O
conjunto da carne do bacalhau e da oleosidade suave do prato fez bem ao vinho,
embora sua principal característica (madeira) ainda seja destacada.
A
nota média de 14,7 ao custo de R$ 70,00 colocaram este vinho como o último
colocado do painel. A não ser que você seja um adorador de vinhos amadeirados,
a compra deste exemplar não é recomendada.
5. Domaine Denis Race – Chablis 1er Cru
Aqui já subimos de categoria dentro da região de
Chablis. Os 1er Cru costumam ser mais elegantes, finos e longevos
que os das categorias Chablis e Petit Chablis e costumam ter alguma passagem
por madeira e, por isso, podem ser guardados por mais anos.
Este exemplar mostrou-se límpido, com tonalidade amarela
pálida e nuances e reflexos verde-ouro cambiantes, claros e cristalinos. Nariz
elegante no limiar de percepção, cítrico, mineral e com delicado toque floral.
Paladar cítrico de limão a pequenos traços de toranja, integrados a uma
sensível mineralidade e uma fresca acidez, harmoniosamente equilibrada por um
leve traço láctico. Corpo médio e persistência média, sempre evidenciando um
final cítrico, bem mineral, proporcionando um frescor harmonioso na boca.
Harmoniza bem com pescado branco, grelhado e servido com molhos a base de
limão, maracujá. Também vai bem com ostras e vieiras. (RA)
Recebeu nota média de 15,6 pontos e a indicação de 3
confrades como o melhor da noite, o que o coloca, no mínimo, como um vinho a
ser provado. Custo médio de R$ 120,00.
6. Elderton Unoaked 2011
O sexto vinho do encontro era um desconhecido da quase todos os
confrades, um Chardonnay
não-barricado da região de Barossa - Austrália.
Ao contrário da maior parte da Austrália, cuja indústria do
vinho foi fortemente influenciada pelos ingleses, Barossa Valley tem uma forte
ligação com a Alemanha, já que foram os alemães fugidos da Prússia que
colonizaram a região. Essa informação talvez seja muito importante para
entender um pouco mais o Chardonnay 2011 da Elderton.
O vinho tem uma acidez quase pungente que lembra um pouco um
Sauvignon Blanc, ainda mais quando se percebe algumas notas minerais. De cara,
pensamos ser um vinho de clima frio, mas aí surgem algumas notas de frutas
tropicais e até algum amendoado.
O Barossa Valley é, na realidade, uma região quente e este
vinho foi bastante intrigante. Apesar de não apresentar tanta tipicidade da
Chardonnay – pelo menos não aquela que estamos acostumados -, os confrades gostaram
do vinho, indicando que é muito agradável, fácil de beber e versátil. Um dos
confrades, inclusive, o indicou como o melhor da noite.
7. Dal Pizzol - Chardonnay 2013
O que diz a vinícola: o mosto deste vinho foi
obtido através de desengace e leve prensagem das uvas. Logo após, foi refrigerado
e clarificado, para estar em condições ideais de serem inoculadas as leveduras
selecionadas (Saccharomyces Cerevisiae). Este vinho requer uma fermentação com
temperatura controlada, em torno de 15 a 18ºC e um rigoroso processo de limpeza
do mosto, a fim de ressaltar seus aromas secundários provindos da fermentação.
Após realizar a fermentação malolática, passou por um pequeno período de
amadurecimento sobre suas borras finas (03 meses), posteriormente estabilizado,
filtrado e engarrafado.
Certamente a grande surpresa da noite, que já chama à atenção por seu aspecto brilhante. Os aromas de maçã verde, maracujá e abacaxi maduro, com um certo toque adocicado lembram bastante um Chablis. Na boca, a acidez quase picante confirma as notas de frutas cítricas e chega-se a notar alguma mineralidade. A boa estrutura, acompanhada de certa elegância, ótimo equilíbrio e um final médio fecham a análise deste ótimo exemplar brasileiro.
A nota média 16,6 pontos ao custo na faixa dos R$ 40,00 não só somente o colocam na 2ª colocação este vinho como a melhor relação qualidade-preço da noite, muito embora tenhamos provado vinhos mais refinados.
8. De Martino Quebrada Seca 2011
O último vinho da noite, foi um dos destaques do
Guia Descorchados 2014, amealhando nada mais, nada menos que 95 pontos de
Patrcio Tapia.
Produzido com uvas do Valle del Limarí – Chile e
fermentado já em barricas de carvalho francês, tem ainda mais 12 meses de
afinamento em barricas de usos diversos. Os aromas, de intensidade não muito
marcante, mostraram toques cítricos, algo de frutas secas e nada mais. Na boca tem as mesmas notas do nariz, boa acidez e algo mineral. Apesar de equilibrado, não se destaca positivamente nenhum dos seus atributos. Boa estrutura, boa persistência. Pode ser harmonizado com uma tábua de frutos do mar
grelhados, assim como peixes defumados.
Um vinho correto e nada mais. Não justificou, pelo menos nesta degustação, a superpontuação que recebeu de Patricio Tapia, pois recebeu aqui a
nota média de 15,3, o que o colocou em 6o lugar no nosso
painel. O custo médio de R$ 120,00 me parece um tanto exagerado e o coloca como, no máximo, razoável no quesito qualidade-preço.
E assim, terminamos mais um encontro da CVS.
Vinho / Produtor
|
Safra
|
Região
|
País
|
$ médio
|
Nota
|
|
1
|
Château de Péronne
|
2011
|
Mâcon-Villages
|
França
|
R$
120,00
|
17,2
|
2
|
Dal
Pizzol
|
2013
|
C.
Gaúcha - RS
|
Brasil
|
R$ 45,00
|
16,6
|
3
|
Elderton Unoaked
|
2011
|
Barossa
|
Austrália
|
R$
75,00
|
15,7
|
4
|
Jean-Marc
Brocard
|
2011
|
Chablis
|
França
|
R$ 150,00
|
15,6
|
5
|
Domaine
Denis Race
|
2011
|
Chablis
1er Cru)
|
França
|
R$ 120,00
|
15,5
|
6
|
De
Martino Quebrada Seca
|
2011
|
Vale
de Limari
|
Chile
|
R$
120,00
|
15,3
|
7
|
Mira Jovem
|
2012
|
Patagônia
|
Argentina
|
R$ 63,00
|
15,2
|
8
|
DiamAndes
|
2010
|
Vale
do Uco
|
Argentina
|
R$
70,00
|
14,8
|
A seguir, algumas fotos do encontro.
E foi assim.
Próximo encontro!
O encontro de maio da CVS já
está acertado. Será dia 30, novamente no Empório do Bacalhau, em São Bernardo
do Campo, que nos receberá para o tema Pinot Noir. Promessa de mais uma noite
de muito bate-papo e estudos! Dúvidas, sugestões e comentários diversos, deixe
seu recado aqui em baixo.
Reitero o convite para que
novos apaixonados que se identificarem com essas ideias e queiram participar, entrar
em contato através do e-mail vinhosim@uol.com.br que sua solicitação será
avaliada pelos fundadores da Confraria Vinho SIM com toda atenção. Produtores e
importadoras que queiram trazer ideias e sugestões para os encontros também
devem entrar em contato pelo mesmo e-mail.
Que Baco nos ilumine!
Categories: Argentina, Austrália, Brasil, Chablis, Chardonnay, Chile, CVS, CVS - Abril 2014, Dal Pizzol, De Martino, França, Mâcon-Villages, Marcelo Miras, Patagônia
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