Vinícola Araucária (PR - Brasil): Superando preconceitos
Publicado por Blog Vinho SIM em 3.3.15 com Sem comentários
Por João Batista Ribeiro,
São Paulo
Havíamos acabado de sair da “Grande Prova de Vinhos do Tejo”
no Consulado Geral de Portugal em São Paulo, onde todos os presentes puderam
provar excelentes vinhos portugueses, e seguimos então para a Cantina Nipolitana,
situada na mesma região, para degustarmos os produtos de uma nova vinícola
brasileira: Araucária.
Ao final da degustação, que como disse um dos participantes, foi
uma atitude ousada, pois, poderiam ter sido prejudicados pela comparação com a elevada
qualidade dos vinhos provados anteriormente, a reação geral foi de aprovação. Se
fossem provados às cegas, poderiam participar como “intrusos” (me perdoem a
expressão) da degustação anterior sem fazer feio.
Sempre se pregou que as melhores regiões para a viticultura
ficam entre os paralelos 30 e 50, tanto no Hemisfério Norte como no Sul, devido
ao clima favorável a essa atividade. Porém, hoje, com o avanço da tecnologia e a experiência e
criatividade dos enólogos conseguem-se bons vinhos inclusive no paralelo 8, que
passa pelo Vale do São Francisco, no nordeste brasileiro. Logo, não é de se estranhar que Curitiba, no paralelo 25,
também nos brinde com suas delícias vínicas. O vinho brasileiro tem enfrentado
muito preconceito para se impor no mercado. Principalmente se não vier do Rio
Grande do Sul, como é o caso deste, por exemplo, da Vinícola Araucária, situada na região metropolitana de Curitiba,
mais precisamente em São José dos Pinhais.
A história da vinícola começa em 2007, com o preparo da terra
para o cultivo de oito variedades de uvas europeias: as francesas Chardonnay,
Pinot Noir, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Viognier e Merlot e as italianas
Nebbiolo (dos famosos Barolo DOC e Barbaresco DOC) e Teroldego (da denominação
Teroldego Rotaliano DOC, do Trentino). A primeira safra saiu em 2012, apenas
com o espumante Poty e o tinto Angustifólia Cabernet Sauvignon.
É um bebê no mundo do vinho, mas já podemos contar com os
espumantes da linha Poty: Brut e Demi-Sec; a linha Angustifólia: Cabernet
Sauvignon, Merlot e Chardonnay; e a linha de entrada Gralha Azul Merlot. Todos
bons vinhos, honestos e com ótima relação qualidade-preço. Além de uvas
próprias, recebe uvas de parceiros da região. É a primeira vinícola paranaense que
tem vinhedos e vinícola próprios. Os produtores paranaenses, antes deles,
compravam uvas de fora e vinificavam. A vinícola conta com um programa
enoturístico e está prestes a inaugurar um restaurante em suas dependências.
A Araucária, com seus produtos, procura homenagear a terra e
a gente do Paraná.
Poty é uma homenagem ao desenhista, ceramista e
muralista Poty Lazzarotto (1924-1998) de Curitiba. Os rótulos dos espumantes
são ilustrados com suas obras.
Angustifólia é o nome científico da Araucária, que
também é conhecida pelo nome indígena de Curi, de onde saiu o nome da cidade de
Curitiba. Os rótulos desta linha são ilustrados com uma Araucária estilizada,
além de um desenho geométrico dos calçadões de Curitiba no rótulo do
Chardonnay.
Gralha Azul é a ave considerada como principal
disseminadora da Araucária, além de ser a ave símbolo do Paraná.
Agora, vamos aos vinhos:
Espumante Poty Brut
Método Tradicional, Chardonnay (70%) e Pinot Noir (30%). 24
meses “sur lies”. Amarelo dourado pálido, borbulhas finas e persistentes.
Aromas elegantes de tostado, pão, frutas cítricas, abacaxi. Em boca tem uma
espuma cremosa, acidez refrescante, confirmando as frutas, pão e levemente
amanteigado. Bastante agradável. Pode ser servido como aperitivo, mas acompanha
bem saladas, peixes, frutos do mar, carnes brancas. Sirva entre 6º a 8ºC.
Espumante Poty Deimi-Sec
Método Tradicional, Chardonnay (70%) e Pinot Noir (30%). 12
meses “sur lies”. Amarelo dourado pálido, borbulhas finas. Aromas frescos de
frutas brancas. Em boca um pouco doce, leve toque tostado, maçã verde e pera. Agrada
bem ao paladar brasileiro, que prefere um vinho não tão seco. Sua versatilidade
permite combiná-lo com molhos agridoces, molhos a base de mel ou sobremesas.
Pode ser servido entre 6º a 8ºC.
Angustifólia Chardonnay
Amarelo limão médio. Aromas de frutas frescas, cítricos,
notas de damasco e um toque tostado. Em boca é seco, tem boa acidez, corpo
médio, bem equilibrado, frutado, toques de amêndoas e madeira bem integrada.
Foge um pouco do Chardonnay habitual, mas é bem refrescante e agradável. Acompanha
carnes brancas, aves, peixes, frutos do mar. Sirva entre 8º a 10ºC.
Angustifólia Cabernet Sauvignon
Vermelho rubi com reflexos violáceos. Aromas de frutas
vermelhas, especiarias, notas balsâmicas e tostado. No paladar é seco, acidez
muito boa, álcool equilibrado, corpo médio, frutas vermelhas, tostado, madeira
integrada sem incomodar e sem sobrepor a fruta. Não apresenta aquele herbáceo
comum em Cabernets e tem um bom final de boca. Harmoniza com carnes assadas,
molhos densos e massas. Sirva entre 15º a 18ºC.
Angustifólia Merlot
Vermelho rubi. Aromas frutados, especiarias, couro,
chocolate. No paladar é seco, boa acidez, álcool equilibrado, taninos bons e
macios, bom corpo, frutas negras, couro, chocolate e um bom final de boca.
Harmoniza com carnes brancas, vermelhas, massas, molho de tomate. Sirva entre
15º e 18ºC.
Gralha Azul Merlot
Vermelho rubi com reflexos violáceos. Aromas frutados com
toques de especiarias e terrosos. Em boca é seco, boa acidez, álcool
equilibrado, corpo leve, taninos bem resolvidos, muita fruta vermelha,
especiarias e um leve tostado. Um vinho de entrada, despretensioso, leve e
muito refrescante, apesar de tinto, sua estrutura assemelha-se mais a de um
“rosé mais encorpado”. Ideal para um bate papo descontraído entre amigos,
acompanha bem pratos leves, risotos de funghi ou de queijo, carnes vermelhas, carnes
brancas, fondue, queijos leves. Melhor se servido entre 10º a 12ºC.
Participaram da degustação:
Wagner Gabardo (conduziu a degustação), João Batista Ribeiro, Ivana S.
C. Feijó, Suellen Adur, Juliano Tija, Marly Rubio, Ata Hostin, Consuelo Ribas,
Eunice Rocha, Luiz Belfort Rizzi, Flávia Helena Ricci e Dani Fedrigo.
Categories: Brasil
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